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Papa Doc


Por Vitor Knijnik,

Publicitário, pai do Tom e em breve também da Lis. Psicografo os grandes mortos de todas as eras, sempre escutando a mesma voz: a minha.

BABY, BABY, BABY, OOOH

Quando eu era menino em Porto Príncipe, certa vez, durante um jogo de War, tirei uma carta que dizia: seu objetivo é destruir o Haiti ou conquistar 24 territórios. Não sei se li certo. Pouco importa. Entendi aquilo como um nítido sinal, uma incumbência divina. Ponderei as dificuldades e escolhi a primeira opção. Mas vi que poderia superar a missão a mim atribuída. Além de aniquilar o Haiti, eu poderia juntar uma fortuna.

Minha vida inteira foi devotada a essa causa. Para tanto, tive até de recuar um pouco e desenvolver a indústria haitiana. Mais especificamente a de bonecos de vodu. Durante o meu governo, usamos mais de 30 mil deles, com excelentes resultados. Como o plano ia bem, achei que era a hora de me declarar presidente vitalício. Convoquei uma eleição onde eu era o único candidato. Foi uma vitória esmagadora, principalmente para os poucos que não votaram em mim. Na ocasião eu disse: “Aceito a vontade do povo. Como um revolucionário, não tenho direito de desconsiderar a vontade do povo”. Sempre gostei de praticar um pouco de stand-up comedy.

Até que em 1959, um ataque no coração me fez perceber que eu não deveria levar tão a sério esse negócio de cargo vitalício. Era preciso preparar um sucessor. Por sorte, eu e Mama tivemos quatro filhos: Baby doc, Baby ppt, Baby xls e Baby Outlook. O que me deu menos problema foi Baby Doc, apesar de ser genioso e às vezes se fechar repentinamente. Razão pela qual o indiquei para me suceder. O menino sempre demonstrou jeito para levar a causa adiante. Quando era pequeno, vejam vocês, mandou eliminar todas as plantações de brócolis da ilha, depois que Mama Doc mandou que ele comesse mais vegetais.

Em 1971, contra a minha vontade de abandonar o planeta, Baby assumiu a Presidência do Haiti. E com que resultados, amigos. Diversificou a economia haitiana, expandindo-a nos mercados do narcotráfico e no comércio de órgãos humanos. Atingiu o expressivo número de 45 mil mortos por oposição ao regime, superando até a minha mais delirante meta. Antes de ser deposto por um levante popular, arrecadou 120 milhões de dólares para a sua conta. Em 2007, pediu perdão ao povo haitiano por “erros” cometidos durante o seu governo. O brincalhão tem o senso de humor do Papa aqui.

Agora meu Baby voltou inexplicavelmente para o Haiti, depois de 25 anos de exílio na França. Alguns acreditam que sua volta é uma tentativa de eleger a candidata Martelly, mas ele nem sequer expôs quem é o seu preferido na corrida eleitoral. Outros sustentam que ele precisou ir até a ilha para provar às autoridades suíças que o dinheiro depositado em sua conta não tem origem ilegal. Nada disso, o caso é outro. Tenho certeza de que meu garoto retornou porque viu que o terremoto do ano passado não foi suficiente para concluir a nossa missão.

SOBRE MIM

Tenho profundo respeito pelo ser humano empalado.

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